Com uma rotina que envolve trânsito, poluição, correria e muito concreto, é fundamental para a saúde mental dos paulistanos – e de todos os moradores de grandes cidades – ter seus momentos de lazer e de contato com a natureza. Em uma cidade sem praia, nada melhor do que usufruir das praças e parques – espaços públicos, a que todos podem ter acesso, passear com a família, reunir amigos, conhecer novas pessoas e desfrutar de uma paisagem mais verde.
Em evento realizado no dia 14 de agosto, na Editora Abril, quatro especialistas falaram um pouco da situação de nossos espaços públicos de convivência e apontaram soluções – já em andamento – para a preservação e melhoria das praças e parques de São Paulo.
Eduardo Jorge, secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, falou sobre o Programa 100 Parques para São Paulo, uma iniciativa da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que prevê um total de 100 parques para o município até o ano de 2012.
O secretário comentou que, em 2005, a cidade contava com 33 parques. Desde então, outros dez foram construídos e mais vinte e três estão em fase de implementação. Trinta e quatro novas áreas já foram desapropriadas com a intenção de serem transformadas em parques nos próximos anos e outras 32 áreas estão em fase de negociação e pode ser que também sejam destinadas ao Meio Ambiente.
No último ano, dos quase R$315 milhões que compõem o orçamento da secretaria, cerca de R$50 milhões foram investidos em parques lineares, áreas verdes próximas às várzeas dos rios que, além de se constituírem como espaços de lazer, impedem as enchentes e a invasão imobiliária sobre as águas. De acordo com Eduardo Jorge, a intenção é conseguir mais R$200 milhões junto ao FUNDEMA – Fundo de Defesa do Meio Ambiente para investir nessa mesma tendência no ano que vem.
Um modificação na dinâmica de escolha dos responsáveis pela manutenção e administração dos parques já trouxe vitalidade para esses espaços. Anteriormente, os cargos eram nomeados por vereadores, mas, este ano, foi lançado um edital para a seleção dos profissionais, para o qual mais de duas mil pessoas com nível universitário e experiência em gestão ambiental se inscreveram. “Foi um grande salto administrativo”, garante Eduardo Jorge. Outro quesito que mereceu investimento foi a segurança dos parques municipais. Atualmente, todos eles contam com segurança privada, o que consome R$18 milhões do orçamento da secretaria.
Durante o encontro, o secretário Eduardo Jorge também anunciou o lançamento, previsto para o dia 28 de agosto, do Programa Zeladores, que consiste em contratar moradores do entorno de praças que estejam desempregados e treiná-los para que façam a manutenção desses espaços de convivência. Inicialmente, será feita uma experiência com 40 pessoas, que deve se expandir se o programa funcionar bem. Atualmente, a cidade conta com cerca de 5.500 praças, administradas pelas 31 subprefeituras do município.
O secretário ainda aproveitou para comentar sobre o projeto, em parceria com a Secretaria de Saneamento e Energia, de construção de 44 km de ciclovias, ligando a USP - Universidade de São Paulo à represa de Billings. Para o começo do ano que vem, ele diz que 12 km já devem estar em funcionamento.
Eduardo Jorge falou sobre a importância de se estabelecer parcerias entre a área de meio ambiente e outras áreas que recebam mais investimento público, como Saúde e Educação. Atualmente, 1,5% do orçamento do município cabem à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O número pode parecer irrisório, mas já foi pior. Em 2005, apenas 0,4% da verba tinha esse destino, número, aliás, que permanece inalterado no âmbito federal.
Regina Monteiro, diretora de Meio Ambiente e Paisagem Urbana da Empresa Municipal de Urbanização e responsável pela redação da lei Cidade Limpa, salientou também a importância de parcerias público-privadas para o desenvolvimento de projetos que tragam benefícios para a população.
Um exemplo disso é a própria lei Cidade Limpa, que, como explica Regina, procura canalizar o montante de dinheiro das empresas destinado à publicidade, para projetos que visem à melhoria da qualidade de vida nas cidades. Em vez de outdoors espalhados por todos os cantos poluindo a cidade visualmente, placas discretas em canteiros, praças e parques com o logo de empresas que cuidam daquele espaço ou desenvolvem algo de interesse público ali. No entanto, segundo a diretora, ainda há muitas arestas a serem acertadas quando se trata de parcerias, que vão desde o tamanho do nome das empresas nas placas até a contrapartida necessária.
Regina ainda falou sobre a legislação de ocupação urbana. No começo do século 20, a lei já previa que 20% dos terrenos fossem mantidos livres, mas a falta de fiscalização fez com que os proprietários começassem a incorporar as negas. Em 1979, a legislação se tornou mais específica e o loteador passou a ser obrigado a deixar 15% do terreno para áreas verdes, 20% para o sistema viário e 5% para escolas, creches e outras construções públicas. Ainda assim, esses limites não são respeitados atualmente.
Sun Alex, arquiteto e urbanista e autor do livro "Projeto da Praça - Convívio e Exclusão no Espaço Público" apresentou um pouco da pesquisa que realizou para sua tese de doutorado na USP, em que analisa como a construção de praças têm cometido equívocos nas últimas décadas, já que, em sua maioria, não cumprem o objetivo principal, que é de se integrar perfeitamente à arquitetura do entorno e servir como um espaço público de convivência e de fácil acesso, e do qual as pessoas se sintam no direito de usufruir.
Ele explica que, como no Brasil possuímos um projeto automobilístico, que não prioriza os pedestres, a praça, muitas vezes, bloqueia a passagem, impedindo a continuidade da visão da cidade para quem caminha. Como exemplo, Sun citou a Praça Roosevelt, em São Paulo, que é elevada, se separa da rua e se destaca do espaço urbano.
Outra crítica do arquiteto foi em relação à maneira como lidamos com a segurança, enchendo o espaço público de grades e placas, que poluem o visual e intimidam as pessoas. Para ele, as praças deveriam refletir a mistura, a diversidade do entorno. Sun ainda alerta para o fato de que muitas praças utilizam o verde apenas como uma retórica ecológica e de sustentabilidade e acabam criando locais sinistros, impedindo a livre circulação das pessoas.
Para ele, a cidade precisa resgatar o eixo e o sistema de circulação de pedestres, sendo fundamental repensar, inclusive, a largura das calçadas, cuja obrigatoriedade já foi de 2 metros e meio e hoje não passa de um metro e vinte e cinco. Sun diz que o ideal seriam três metros de calçada para facilitar a acessibilidade.
Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, lembrou a situação da floresta: bioma mais ameaçado no país e segundo, no mundo, presente em 17 estados brasileiros e com influência direta sobre a vida de mais de 122 milhões de habitantes. Depois de passar pelos ciclos do pau-brasil, do café, do ouro e da cana, sofrer com a era industrial e com a ocupação urbana, a Mata Atlântica tem apenas 7,26% de sua cobertura original e está extremamente fragmentada. Ainda assim, a população mal sabe dizer onde esse bioma se localiza geograficamente ou qual a sua importância – a Mata Atlântica é fundamental para a preservação da biodiversidade, o equilíbrio do microclima, a garantia da permeabilidade do solo e a diminuição da poluição. Por conta da Serra do Mar, cujo relevo dificulta a exploração do terreno, a área original, no estado de São Paulo, é um pouco maior, de 16%.
A diretora disse que vê com bons olhos as parcerias entre ONGs, poder público e privado. Como um exemplo bem sucedido, ela citou o Click Árvore – programa da SOS Mata Atlântica e do Grupo Abril que promove o reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlântica, em que cada clique se transforma no plantio de uma árvore. Até agora, mais de 15 milhões de mudas foram plantadas.
Para ela, o cidadão precisa se apropriar das praças e parques, pois além da importância desses espaços para a saúde física e mental da população, eles ajudam a criar, em cada um de nós, uma consciência maior de preservação ambiental.
Leia também:
Evento debate praças e parques de São Paulo
Com uma rotina que envolve trânsito, poluição, correria e muito concreto, é fundamental para a saúde mental dos paulistanos – e de todos os moradores de grandes cidades – ter seus momentos de lazer e de contato com a natureza. Em uma cidade sem praia, nada melhor do que usufruir das praças e parques – espaços públicos, a que todos podem ter acesso, passear com a família, reunir amigos, conhecer novas pessoas e desfrutar de uma paisagem mais verde.
Em evento realizado no dia 14 de agosto, na Editora Abril, quatro especialistas falaram um pouco da situação de nossos espaços públicos de convivência e apontaram soluções – já em andamento – para a preservação e melhoria das praças e parques de São Paulo.
Eduardo Jorge, secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente da cidade de São Paulo, falou sobre o Programa 100 Parques para São Paulo, uma iniciativa da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que prevê um total de 100 parques para o município até o ano de 2012.
O secretário comentou que, em 2005, a cidade contava com 33 parques. Desde então, outros dez foram construídos e mais vinte e três estão em fase de implementação. Trinta e quatro novas áreas já foram desapropriadas com a intenção de serem transformadas em parques nos próximos anos e outras 32 áreas estão em fase de negociação e pode ser que também sejam destinadas ao Meio Ambiente.
No último ano, dos quase R$315 milhões que compõem o orçamento da secretaria, cerca de R$50 milhões foram investidos em parques lineares, áreas verdes próximas às várzeas dos rios que, além de se constituírem como espaços de lazer, impedem as enchentes e a invasão imobiliária sobre as águas. De acordo com Eduardo Jorge, a intenção é conseguir mais R$200 milhões junto ao FUNDEMA – Fundo de Defesa do Meio Ambiente para investir nessa mesma tendência no ano que vem.
Um modificação na dinâmica de escolha dos responsáveis pela manutenção e administração dos parques já trouxe vitalidade para esses espaços. Anteriormente, os cargos eram nomeados por vereadores, mas, este ano, foi lançado um edital para a seleção dos profissionais, para o qual mais de duas mil pessoas com nível universitário e experiência em gestão ambiental se inscreveram. “Foi um grande salto administrativo”, garante Eduardo Jorge. Outro quesito que mereceu investimento foi a segurança dos parques municipais. Atualmente, todos eles contam com segurança privada, o que consome R$18 milhões do orçamento da secretaria.
Durante o encontro, o secretário Eduardo Jorge também anunciou o lançamento, previsto para o dia 28 de agosto, do Programa Zeladores, que consiste em contratar moradores do entorno de praças que estejam desempregados e treiná-los para que façam a manutenção desses espaços de convivência. Inicialmente, será feita uma experiência com 40 pessoas, que deve se expandir se o programa funcionar bem.
Atualmente, a cidade conta com cerca de 5.500 praças, administradas pelas 31 subprefeituras do município.
O secretário ainda aproveitou para comentar sobre o projeto, em parceria com a Secretaria de Saneamento e Energia, de construção de 44 km de ciclovias, ligando a USP - Universidade de São Paulo à represa de Billings. Para o começo do ano que vem, ele diz que 12 km já devem estar em funcionamento.
Eduardo Jorge falou sobre a importância de se estabelecer parcerias entre a área de meio ambiente e outras áreas que recebam mais investimento público, como Saúde e Educação. Atualmente, 1,5% do orçamento do município cabem à Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. O número pode parecer irrisório, mas já foi pior. Em 2005, apenas 0,4% da verba tinha esse destino, número, aliás, que permanece inalterado no âmbito federal.
Regina Monteiro, diretora de Meio Ambiente e Paisagem Urbana da
Empresa Municipal de Urbanização e responsável pela redação da
lei Cidade Limpa, salientou também a importância de parcerias público-privadas para o desenvolvimento de projetos que tragam benefícios para a população.
Um exemplo disso é a própria lei Cidade Limpa, que, como explica Regina, procura canalizar o montante de dinheiro das empresas destinado à publicidade, para projetos que visem à melhoria da qualidade de vida nas cidades. Em vez de outdoors espalhados por todos os cantos poluindo a cidade visualmente, placas discretas em canteiros, praças e parques com o logo de empresas que cuidam daquele espaço ou desenvolvem algo de interesse público ali. No entanto, segundo a diretora, ainda há muitas arestas a serem acertadas quando se trata de parcerias, que vão desde o tamanho do nome das empresas nas placas até a contrapartida necessária.
Regina ainda falou sobre a legislação de ocupação urbana. No começo do século 20, a lei já previa que 20% dos terrenos fossem mantidos livres, mas a falta de fiscalização fez com que os proprietários começassem a incorporar as negas. Em 1979, a legislação se tornou mais específica e o loteador passou a ser obrigado a deixar 15% do terreno para áreas verdes, 20% para o sistema viário e 5% para escolas, creches e outras construções públicas. Ainda assim, esses limites não são respeitados atualmente.
Sun Alex, arquiteto e urbanista e autor do livro "Projeto da Praça - Convívio e Exclusão no Espaço Público" apresentou um pouco da pesquisa que realizou para sua tese de doutorado na USP, em que analisa como a construção de praças têm cometido equívocos nas últimas décadas, já que, em sua maioria, não cumprem o objetivo principal, que é de se integrar perfeitamente à arquitetura do entorno e servir como um espaço público de convivência e de fácil acesso, e do qual as pessoas se sintam no direito de usufruir.
Ele explica que, como no Brasil possuímos um projeto automobilístico, que não prioriza os pedestres, a praça, muitas vezes, bloqueia a passagem, impedindo a continuidade da visão da cidade para quem caminha. Como exemplo, Sun citou a Praça Roosevelt, em São Paulo, que é elevada, se separa da rua e se destaca do espaço urbano.
Outra crítica do arquiteto foi em relação à maneira como lidamos com a segurança, enchendo o espaço público de grades e placas, que poluem o visual e intimidam as pessoas. Para ele, as praças deveriam refletir a mistura, a diversidade do entorno. Sun ainda alerta para o fato de que muitas praças utilizam o verde apenas como uma retórica ecológica e de sustentabilidade e acabam criando locais sinistros, impedindo a livre circulação das pessoas.
Para ele, a cidade precisa resgatar o eixo e o sistema de circulação de pedestres, sendo fundamental repensar, inclusive, a largura das calçadas, cuja obrigatoriedade já foi de 2 metros e meio e hoje não passa de um metro e vinte e cinco. Sun diz que o ideal seriam três metros de calçada para facilitar a acessibilidade.
Márcia Hirota, diretora de Gestão do Conhecimento da
Fundação SOS Mata Atlântica, lembrou a situação da floresta: bioma mais ameaçado no país e segundo, no mundo, presente em 17 estados brasileiros e com influência direta sobre a vida de mais de 122 milhões de habitantes. Depois de passar pelos ciclos do pau-brasil, do café, do ouro e da cana, sofrer com a era industrial e com a ocupação urbana, a Mata Atlântica tem apenas 7,26% de sua cobertura original e está extremamente fragmentada. Ainda assim, a população mal sabe dizer onde esse bioma se localiza geograficamente ou qual a sua importância – a Mata Atlântica é fundamental para a preservação da biodiversidade, o equilíbrio do microclima, a garantia da permeabilidade do solo e a diminuição da poluição. Por conta da Serra do Mar, cujo relevo dificulta a exploração do terreno, a área original, no estado de São Paulo, é um pouco maior, de 16%.
A diretora disse que vê com bons olhos as parcerias entre ONGs, poder público e privado. Como um exemplo bem sucedido, ela citou o
Click Árvore – programa da SOS Mata Atlântica e do Grupo Abril que promove o reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlântica, em que cada clique se transforma no plantio de uma árvore. Até agora, mais de 15 milhões de mudas foram plantadas.
Para ela, o cidadão precisa se apropriar das praças e parques, pois além da importância desses espaços para a saúde física e mental da população, eles ajudam a criar, em cada um de nós, uma consciência maior de preservação ambiental.
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