sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Laguneada: consertando o que desequilibramos

Apreciando o trabalho do dia - 30 de janeiro de 2010

Fotos: Ricardo Caminha

Na Reserva Ecológica Ribera Norte há um conjunto de lagoas e cursos d'água que as intercomunicam e que também interagem com o Rio de la Plata que está logo ali. Infelizmente a ganância imobiliária, como é seu costume, quis e ganhou terras inundáveis ao rio, recheando áreas para construir e logo vendo-se obrigada a recorrer a barreiras para impedir que o rio reclamasse as terras que eram suas de direito quando ele cresce.
Isso significa que águas de chuva vindas da 'barranca' (uma elevação que delimitava originalmente o fim das terras iniundáveis) que antes alimentavam as lagoas da reserva já não o fazem e que as águas da lagoa, mesmo com as crescidas do rio, são muito mais paradas que o desejado para manter um equilíbrio de, por exemplo, plantas aquáticas.
Assim sendo, a galera da reserva se vê obrigada a recorrer às ditas 'laguneadas' para liberar o espelho d'água. Sem espelho visível, muitas aves não pousam - acham que é terra o que há debaixo do tapete de plantas aquáticas. Isso significa que não constróem ninhos. E que não se reproduzem. E que... Enfim, vocês já entenderam.
Um dos orgulhos da Reserva é que habitam nela mais de 10% das aves nativas de todo o território argentino. A idéia é manter isso, diminuindo a quantidade de plantas exóticas - que além de tomarem o espaço das nativas não fornecem alimento à fauna local (mas isso é outro assunto). Outra coisa que podemos fazer e fazemos a cada 15 dias no verão é limpar a lagoa do excesso de plantas aquáticas, de lixo, diminuir a quantidade de exóticas (como o lírio Iris pseudacorus) que formam verdadeiras ilhas flutuantes e diminuem ainda mais a superfície de água.
Ai vão algumas fotos das laguneadas desse ano. Não são fotos minhas, mas na maioria dos casos não sei dizer quem as tirou... Se os autores se manifestarem, terei orgulho em acrescentar seus nomes.




Afundada na lama até acima do joelho

A ilha foi se formando pelo crescimento das Iris pseudacorus, que retém terra em seu emaranhado de rizomas. Logo cresceram uma Sesbanea punicea (Aqui Acacia mansa ou Ceibillo) com lindas flores laranjas e também algumas Erithrina crista-galli (aqui chamados Ceibo, a flor nacional da Argentina). As folhas que se vêem em primeiro plano infelizmente também pertencem à exótica iris... Nosso trabalho nesse dia foi cortar iris, coletar repolhos d'água (Pistia stratiotes) que seriam doados e retirar ao máximo outras aquáticas ('lentejas de agua' e 'helechitos de agua') para deixar livre o espelho da lagoa. Todo o material orgânico podado ou recolhido é jogado em cima da ilha, numa tentativa de afogar o rizoma das iris o suficiente para que paulatinamente perdam suas forças e não consigam voltar a crescer, o que dá certo lentamente (em outros pontos da lagoa estão resurgindo manchas de totora e outras nativas!!!).

***

Dia 27 de fevereiro haverá mais uma, estão todos convidados a se embarrar. Dessa vez eu passo, estarei longe, em terras tupiniquins. Mas esse fimde devo ir lá recolher lixo das trilhas - o rio andou muito alto esses últimos dias e nos devolve tudo aquilo que, em vez de reduzir, reciclar ou simplesmente jogar no lixo as pessoas jogam nas ruas e as chuvas levam até o rio. Se nós não queremos nosso próprio lixo, porque o rio haveria de querê-lo?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Descobrindo as plantas nativas


Se você está em Buenos Aires e se interessa por natureza e por plantas nativas, recomendo o curso Descobrindo as Plantas Nativas da Riberira Norte que acontecerá em março no
viveiro e reserva ecológica Ribera Norte. Fiz esse curso em setembro de 2009 e em novembro o curso de cultivo e adorei os dois. A vantagem do primeiro é que começa com uma visita guiada à reserva, entendendo os diversos espaços, como se formam e interagem em busca do equilíbrio ecológico.

Visita à reserva durante o Curso Descobrindo as Plantas Nativas, que dura meio dia. A trilha elevada sobre dormentes de quebracho é a recentemente aberta ao público.

Curso Cultivando Plantas Nativas


A primeira vez que falei da reserva foi quando fiz a visita noturna. Podem ler mais aqui e aqui.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Porque não estudei economia

Ou contabilidade, tesouraria, finanças, comércio exterior ou ainda qualquer outro ganha-pão que dependa de forma mais direta de números e cálculos

Estou trabalhando no orçamento de um projeto que desenvolvi com um amigo. No fim, as contas dão certo, as fórmulas no excel funcionam, fazemos os ajustes necessários para chegar a um valor que o cliente possa pagar etc. e tal. Mas... Afffffff!!! Muitas horas são gastas nesse processo que mais se parece a um quebra-cabeça onde os números riem de nós, dão nó em nossos neurônios, se escondem ou multiplicam sem que nos demos conta e fazem da caça-ao-erro uma tarefa cansativa e desgastante.
Tendo consciência e certeza de que isso faz parte do negócio, me esforço (muito) para dominar essas feras compostas por algarismos e sinais de multiplicação, adição, subtração, divisão... Quando analiso o assunto, fico muito feliz de que, de forma direta, minha vocação tenha muito mais que ver com o lado criativo que com aspectos financeiros e deixo que outras pessoas que sim gostam disso se dediquem aos números e fórmulas financeiras, ganhem 'muitos dinheiros' no processo e me contratem para materializar os jardins de seus sonhos.

;-)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Meios expressivos

Uma das matérias que tivemos chama-se Meios Expressivos. Tivemos um professor muito bom e com ele aprendemos algumas coisas interessantes para soltar a mão e encarar a representação gráfica de projetos com mais recursos. Quero compartilhar com vocês alguns dos trabalhos que fiz e dos quais gostei mais.

Começamos o ano (2009) falando de cores primárias, secundárias, complementares..., de formas, de equilibrio, de harmonia, simetria ou falta dela e por ai vai. Depois, nos dedicamos algo mais às formas básicas: o quadrado, o triângulo isósceles, o círculo. Vimos que podem ser somadas, subtraídas, repetidas, giradas e que com essas formas podemos criar outras células que, repetidas, formam uma trama que pode ser útil ao desenhar um espaço verde.

Eis a trama que criei com minha célula-base. Depois, tirei duas cópias, as juntei e, trabalhando com um papel vegetal criei uma área verde. Cada um pensou em algo diferente com a trama que criou - uns, o jardim de uma casa com piscina, pérgola, churrasqueira... No meu caso, imaginei uma praça enorme, com canteiros e espelhos d'água, bancos, pérgolas, uma fonte centrar e um bosque ao fundo. Podem ver o resultado abaixo. [Escala 1:400 - as árvores representadas com círculos roxos à direita são Jacarandás]

Logo tínhamos que colorir o espaço criado e perder o medo do lápis de cor. Tudo começou muito de leve e tímido e com muito incentivo tornou-se mais marcado, mais forte e com mais personalidade. Obstáculo superado, agora conseguimos decidir se queremos ou não carregar no lápis de cor ;-)


- Para a próxima aula tragam passpartout 35x50cm e lápis grafite 2B, 4B, 6B e 8B. - diz o professor.
E lá vamos nós! O desafio: desenhar árvores. Como? Primeiro, escolha uma árvore - de prederência uma de que você goste, que conheça (bem) e que esteja por perto para ser vista ou da qual tenha várias fotos. Logo, analise, antes de mais nada, qual a estrutura da árvore que vai desenhar. Sua estrutura, como é? Colunar? E a copa, redonda? Copa alta ou baixa? Tronco liso ou rugoso? Folhagem densa? Compacta? E quanto à altura? Cresce simétrica? Curva-se com o vento? Possui flores? Qual a cor da folhagem - clara, escura, variegada?
Depois, comece usando um lápis 2B com ponta algo desgastada para não marcar demais o papel. Desenhe a estrutura da árvore: seu tronco e galhos. Logo, esboce a forma da copa. Satisfeito (razoavelmente)? Com os outros lápis mais suaves, comece a dar profundidade e textura a essa árvore, experimente o que cada lápis oferece: sua cor mais intensa, o rastro de grafite que deixa no papel, a possibilidade de esfumaçar usando o dedo, as manchas que deixa se tentar apagar...
Tive a vantagem de ter um professor por perto fazendo demonstrações, dando toques, incentivando a que perdessemos o medo de errar e o resultado está abaixo no falso pimenteiro ou pimenta rosa (Schinus areira), o primeiro que fiz, e na araucária.

O que vem depois do PB? A cor, é claro. Com têmperas aprendemos a mesclar cores e a dar as primeiras pinceladas. O desafio foram novamente as árvores, que dessa vez deveriam se representadas metade peladas, para mostrar sua estrutura, e metade vestidas com sua folhagem e floração. Fiz, entre outras, a Erythrina crista-galli, flor nacional da Argentina desde 1942, e um jacarandá.

Ufa! Um longo caminho percorrido. Hora de começar a pensar em 3D, em perspectivas e croquis. Para ajudar nessa empreitada, um exercício muito bacana. Cada um pesquisou e escolheu uma pintura abstrata de Robert ou de sua esposa Sonia Delaunay - eu escolhi este daqui. Passamos os traços ao tamanho 35x50cm e criamos um espaço utilizando esses traços. Surgiram praças muito interessantes (acho que apenas uma pessoa criou um jardim residencial dessa vez). Logo, fizemos uma maquete para a planta imaginada, tiramos fotografias - algumas do ponto de vista de uma pessoa que estivesse passeando pela maquete e, usando maquete e fotos como apoio, desenhamos duas perspectivas. Bastante difícil cumprir a tarefa, o resultado ficou melhor do que eu esperava. O que acham?




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domingo, 7 de fevereiro de 2010

2009: um ano produtivo

Respiro fundo, relaxo, me preparo para ouvir opiniões: chegou a hora de compartilhar com vocês o que andei produzindo no paisagismo durante 2009. Quero continar aprendendo e preciso da ajuda de vocês nessa caminhada que tem começo, tem direção, mas não tem fim (que bom!). Espero que gostem e que comentem - mesmo [pricipalmente?] se não gostarem.
2009 foi um ano dedicado aos estudos, a experimentar o uso dos lápis grafite e de cor, a sofrer desenhando meus primeiros croquis, a estudar texturas de materiais para melhorar a apresentação gráfica de idéias. Agora estou mais confiante ao expressá-las. O suficiente para, apoiada pela insubstituível apresentação do projeto, poder transmitir a sensação do jardim ao cliente.
Expressar idéias graficamente (ainda) leva muito tempo e (ainda) gasto muita borracha no processo: nada que a prática e a persistência não melhorem.


Jardim residencial 18m x 5m

Esse foi o primeiro projeto elaborado no curso. Deviamos projetar um espaço de 18m x 5m para os fundos de uma casa e representar a planta e sua elevação em preto e branco usando escala 1:50. Outro requisito era usar arbustos e herbáceas de três alturas, sendo permitido incluir outros elementos desejados. Nesse momento não foram colocadas características de quem usaria o espaço. A escolha das espécies ficou restrita a uma lista trabalhada em outra matéria (recursos vegetais), pois essas estão disponíveis no mercado e se adaptam bem ao clima de Buenos Aires.
Pena que a lâmina escanneada fique meio manchada. Espero que ainda assim dê para apreciar que há linhas mais grossas representando o que está mais alto e mais finas para tudo o que está mais próximo ao chão. Na elevação, o mais próximo é mais forte e o mais distante, algo mais fino, mais leve ou apagado.
Trabalhei linhas orgânicas, que me agradam bastante, criando um orquidário com pérgola e redes para relaxamento e leitura, um longo banco em alvenaria acompanhando a parede dos fundos e canteiros em várias alturas. Há uma mesa à sombra de uma Lagerstroemia indica (resedá) de flores vermelho-vinho sobre chão de pedrisco e a variada largura do banco permite recostar-se contra a parede, deitar-se ou sentar-se comodamente sobre almofadas e colchenetes. Para iluminação temos uma luz elevada no mesmo suporte das redes que ilumina de modo amplo, balizadores embutidos no banco e luminárias de parede, podendo cada tipo ser usado de forma independete ou em conjunto com outras.



Jardim residencial 18m x 5m (2)

O próximo projeto foi elaborar um novo espaço para o mesmo jardim trabalhado acima. Quem usou linhas orgânicas como eu, deveria projetar algo mais geométrico e vice-versa. A idéia era apresentar uma segunda opção para o cliente que gostou dos ambientes e das espécies vegetais escolhidas, mas não tanto das formas. Também poderiamos incluir algo novo - resolvi acrescentar um espaço gourmet com churrasqueira, forno e fogão à lenha, pia, geladeira - tudo sob a agradável sombra de uma pérgola de madeira coberta com policarbonato e uma bela Wisteria sinensis (glicinia).
Essa representação de planta e elevação em escala 1:50 deveria ser feita em cores.[Fico devendo as referências, o arquivo é muito pesado e não sobre nem com reza brava]


Cafeteria Centro Pampa

Centro Pampa é o nome da escola onde faço o curso. É um prédio antigo reformado uma e outra vez para atender às necessidades de alunos e professores. No verão 2008/2009 houve mais uma reforma e a escola ganhou um segundo andar fechado - onde antes era um terraço, agora há um ateliê para as aulas de pintura e de design de jóias. Trata-se da área em branco na planta acima.
O erxercício consistiu em criar um espaço externo cosntruindo decks em duas alturas sobre os telhados da escola, reaproveitar uma sala que hoje é um depósito, abrindo um segundo acesso à área externa [a porta de vidro dupla na parte inferior da planta já existe, com um pequeno deck de 2m de largura]. Também deveriamos criar uma varanda sobre o telhado à direita, com vista para a rua, e readequar todo o espaço como cafeteria e área social da escola.
Esse trabalho foi feito em duplas e Julieta e eu o projetamos incluindo uma biblioteca informatizada, área WiFi, canteiros elevados e outros afundados no deck para que as plantas fiquem à altura do piso, dando a sensação de estarem plantadas na terra, um estanque com cortina de água para manter a luminosidade de janelas que ficaram ocultas, mas que trazem luz e ar às salas de aula que estão embaixo.
Usamos espécies da flora nativa para trazer ao local também parte da fauna nativa de aves e borboletas, ajudando no equilibrio ambiental e cumprind com o compromisso social da escola. O deck mais alto tem cobertura de pérgola com policarbonato, ventilação controlada e pode ser isolado caso queiram das algum curso ou fazer exposições, algo comum na rotina do Centro Pampa. A área conta com banheiros e uma pia apropriada para lavar pincéis e materiais de pintura, com filtros e canos de diâmetro suficiente para não entupir e facilitar a manutenção. Aproveitamos ainda a parte superior da biblioteca criando uma escada de acesso e um monta-cargas para que esse espaço com vistas privilegiadas possa ser utilizado pelos alunos dos cursos de pintura. Ah, e desenhamos também também telhados verdes para tudo o que não fosse deck, proporcionando maior área de absorção de águas pluviais e mais conforto térmico no verão e no inverno para os ambientes dessa construção. Bem que podia ser um projeto com possibilidade de execução e não apenas um exercício de curso, ficou muito bacana e eu, como aluna, adoraria ter
Escala 1:50 - o norte fica sobre a diagonal que vai da esquerda para a direita, apontando para baixo [o scanner só trabalha até tamanho A3 e a lâmina mede 35 x 50cm... Digitalizar maior ia ficar muuuito mais caro do que já foi].


Jardim residencial - fachada
Jardim residencial - fundos

Um jardim de verdade! Esse último trabalho de projeto do ano foi um caso real. Há uma casa perto da escola que está em reforma. Seu jardim está abandonado, cheio de entulho, material de cosntrução, plantas invadindo os espaços. Há alguns pontos a serem resolvidos, como obter privacidade em relação ao prédio que fica nos fundos.
A proprietária também quer manter ao máximo as plantas existentes - o projeto foi desenvolvido respeitando algumas árvores grandes e transplantando arbustos e herbáceas, acrescentando maior quantidade das mesmas espécies ou novas plantas para criar ambientes agradáveis e funcionais.
Uma área de estar permite aproveitar o jardim tanto no verão quanto no inverno e o jardim entra pela janela da copa-cozinha para poder ser aproveitado na correria do cotidiano.
Na fachada sempre sombreada, plantas criam privacidade e dão as boas-vindas com perfumes, assim como fazem os árabes - um costume que considero muito simpático.
Cada aluno da manhã e da noite, num total de 15, preparou um projeto para a proprietária, que teve a difícil tarefa de escolher os 4 que mais gostou. Os alunos da noite tivemos a vantagem de poder apresentar o projeto a ela, o que ajuda muito. Depois de uma longa deliberação com o professor de projeto, ela escolheu 3 projetos da noite e um da manhã. Os alunos formarão um grupo que fará um novo projeto a ser implementado quando a reforma da casa estiver terminada. Faço parte desse grupo de trabalho :-D !!!

Essa é uma boa amostra do que produzi na matéria de projeto durante 2009. Depois conto a vocês o que fizemos em meios expressivos, aulas que adorei e que ajudaram muito a soltar a mão e experimentar técnicas variadas.



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